Nos últimos dias os jornais têm destacados diversos casos de tentativa ou morte por suicídio de crianças e adolescentes devido a um jogo que se propagou pelas redes sociais chamado “Baleia Azul”, que estabelece desafios aos participantes até finalmente sugerir que a pessoa se mate. O perigo que isso representa trouxe novamente a tona um tema pouco debatido, mas que apresenta um crescimento alarmante, que é o suicídio no país.
Atrás apenas de homicídios e acidentes de trânsito, o suicídio já é terceira principal causa de morte por fatores externos no Brasil. Dados do Mapa da Violência, do Ministério Público, aponta um crescimento de 40% na taxa de suicídio entre crianças de 10 a 14 anos, enquanto para jovens de 15 a 19 anos o crescimento foi de 33,5%.
Os números no Brasil não atingem 10 suicídios por 100 mil habitantes, considerado alto pela a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas o crescimento nos últimos anos deixa claro que precisamos falar sobre suicídio e buscar cuidar mais do bem-estar um do outro. Ainda é raro ver o tema ser debatido abertamente na sociedade e faltam programas de prevenção, sendo que os existentes muitas vezes sequer são de conhecimento das pessoas que mais precisam deles.
Obviamente que é difícil entender os motivos que levam uma criança ou adolescente a cometer um ato tão definitivo como o suicídio. Seja por depressão, bullying, sexualidade, utilização de produtos psicoativos ou solidão, o fato é que a pessoa alcança um momento de desequilíbrio emocional tão alto que se torna extremamente vulnerável.
Segundo especialistas, nove em cada dez casos de suicídios podem ser evitados com o diagnóstico e tratamento adequado do transtorno, porém o desafio maior é identificar os sinais que levam uma pessoa a suicidar-se, que muitas vezes são ignorados. Em uma época em que o contato humano parece ser cada vez mais substituído pelas mídias digitais, precisamos voltar a valorizar o diálogo e a atenção.
A diminuição do número de suicídios de crianças e adolescentes também passa pela ampliação das políticas de prevenção, dessa forma campanhas que busquem combater a banalização da depressão e que fortaleçam a rede de atendimento, especialmente em relação aos Centros de Apoio Psicossociais (Caps), são essenciais. Também é preciso um trabalho constante de aprimoramento dos profissionais da área da saúde, para que sejam cada vez mais capazes de identificar os sinais e encaminhar os pacientes para serviços especializados.
Por fim, é fundamental a articulação entre poder público, entidades sociais, iniciativa privada, sindicatos, imprensa e igrejas para permitir maior capilaridade e alcance das informações junto à população. A depressão e transtornos que podem levar ao suicídio atingem todas as classes sociais, idade, orientação sexual ou religião e apenas em conjunto podemos evitar que esse cenário leve a uma conclusão trágica.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)