Dias de Venezuela por Ademar Traiano*

O colapso no abastecimento se somou à uma crise política provocada pela reação descoordenada do governo Temer e pela infiltração política radical no movimento.

O espectro dos gigantescos protestos de 2013 parecia rondar o Brasil quando começaram a pipocar manifestações de apoio aos caminhoneiros. Uma grande crise política agora, faltando 4 meses para as eleições, com a participação de uma categoria que possui o poder de paralisar o país, teria desdobramentos graves e imprevisíveis.

Os prejuízos da greve são incalculáveis. A paralisação atingiu em cheio a recuperação da Petrobras. Ela foi interrompida por perdas bilionárias devido a percepção do mercado que o governo federal voltou a praticar ingerências políticas na gestão da empresa. Criadores de aves e suínos sofreram prejuízos gigantes. Outros setores foram gravemente prejudicados pelo desabastecimento.

Ao lado do apoio popular legítimo, movimentos oportunistas se infiltraram na mobilização dos caminhoneiros. Pela direita os intervencionistas, que idealizam uma intervenção militar como solução para todos os problemas do Brasil. Pela esquerda, a CUT tentou pegar carona na boleia da greve com uma paralisação dos petroleiros para empinar suas bandeiras seriamente desmoralizadas pelo colapso do PT.

O caso dos petroleiros, aliás, é curioso. Os aliados da CUT, no PT, foram os que levaram a Petrobras a lona pela gestão ruinosa e corrupção em escala gigantesca. Uma das pautas dos petroleiros é o combate as medidas que tentam sanear a Petrobras do efeito dos estragos provocados por governos petistas.

Mais irônico ainda: com a greve, o Brasil teve um pequeno vislumbre das crises de abastecimento vividas por anos na Venezuela por cortesia do “socialismo do Século XXI” pilotadas por Hugo Chávez (1999-2013) e Nicolás Maduro (2013-?). Também foi possível imaginar as horripilantes privações do povo cubano desde 1959. Quase 60 anos convivendo com as delícias do socialismo do Século XX. Os dois regimes são objeto de devoção da esquerda brasileira.

É preciso aprender com a crise dos caminhoneiros. Rebeliões contra tributos, como foi essa greve, podem vir a se multiplicar no país devido à alta carga tributária e a má qualidade dos serviços prestados.

Nos últimos 30 anos a carga de tributos no Brasil saltou de 24% para 36% do PIB. A multiplicação desses protestos, se não houver uma reforma profunda no setor, a começar pela reforma da Previdência, será inevitável. Precisamos refletir e agir sobre esse problema. Se não, seremos sempre atropelados por ele.

* Ademar Traiano é deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa e vice-presidente do PSDB do Paraná

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