Mares Limpos: coleta na praia reduz lixo que vai para os oceanos

Golfinhos, tartarugas, peixes, aves e vários outros animais que vivem nos oceanos confundem plástico com comida e morrem por asfixia, inanição ou por fome, já que o resíduo impede a ingestão e a absorção de alimentos. Imagens da fauna marinha saudável e dos impactos sofridos por esses animais pela ingestão de resíduos fazem parte do trabalho de educação ambiental que a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) está realizando com os quase 100 envolvidos nas atividades de limpeza das praias. “Essa capacitação ajuda nossos coletores a visualizarem a extensão do benefício que a coleta de lixo traz para os oceanos, e que vai além do que podemos perceber apenas olhando a areia limpa”, diz a bióloga Ana Cristina do Rego Barros, educadora ambiental da empresa e responsável pelo treinamento.

Neste mês de fevereiro, a campanha Mares Limpos, da Organização das Nações Unidas, completa dois anos tentando incentivar empresas e pessoas a evitarem a poluição dos oceanos, especialmente com o descarte inadequado de resíduos plásticos. Setenta e cinco países já aderiram à iniciativa da ONU, mas ainda há muito a ser feito. Pesquisa divulgada pela Fundação Ellen MacArthur em 2017 afirma que se o uso de plástico continuar crescendo na proporção atual, sem reciclagem, em 2050 haverá mais plástico que peixes nos oceanos. A instituição estima que cerca de oito bilhões de toneladas do material já são despejados nos mares todos os anos, o que pode ser comparado a um caminhão de lixo por minuto.

No Litoral do Paraná, o trabalho de coleta de lixo, executado pela Sanepar, tenta reduzir esses números. Em dois meses de temporada, a empresa já retirou das areias 570 toneladas de resíduos dos tipos mais diversos. Quase 27 toneladas desse material foram retiradas apenas no primeiro dia de 2019. “Os coletores percebem que está havendo uma redução na quantidade de lixo deixada na praia, mesmo quando a quantidade de pessoas não diminui na temporada. Isso demonstra uma mudança de comportamento no veranista que ou está trazendo menos lixo para a orla ou está levando os resíduos de volta”, conta o supervisor dos coletores de Matinhos, David Pereira Machota. A coleta da Sanepar é feita ao longo de 48 km de orla, de Pontal do Paraná até Guaratuba. As prefeituras municipais fazem a destinação dos resíduos.

Ana Cristina explica que esse comportamento observado por David e pelos coletores é muito bem vindo. “Eliminar o lixo das praias é muito importante para a preservação dos oceanos. Isso pode ocorrer tanto pela conversa que os coletores têm com os veranistas ou mesmo pelo exemplo que eles dão, silenciosamente, dia após dia, com o seu trabalho de limpeza. Ver a praia limpa, ver alguém trabalhando para que ela esteja limpa ajuda a modificar o comportamento pessoal”, diz.

Sem fronteiras – A bióloga conta que as fotos usadas no treinamento são de diversas partes do mundo e que o lixo jogado nos mares pode ter consequências em locais bastante distantes. “Pesquisadores já demonstraram que os resíduos chegam a locais muito remotos, nunca habitados, e que existem ilhas inteiras só de lixo. O impacto de um elemento poluente é muito difícil de medir, mas sabemos que diversos resíduos, como o plástico, não trarão nenhum benefício para a fauna e a flora marinhas. Vão apenas causar morte e poluição, sendo que em alguns casos também podem contaminar quem consome esses animais. Evitar isso é parte do importante trabalho feito pelos nossos coletores, que não apenas limpam a faixa de areia usadas pelos veranistas, mas contribuem para um ecossistema mais preservado. Com o treinamento mostramos que o impacto da poluição gerada pelos resíduos descartados erroneamente é enorme. Mas, também ensinamos como é enorme o benefício gerado pela coleta e pelo destino correto do lixo”, conta.

De acordo com Ana, o treinamento é ainda mais relevante porque muitos dos coletores contratados pela Sanepar na temporada trabalham na coleta de recicláveis nas cidades litorâneas durante o restante do ano. “O treinamento em educação ambiental é para a vida inteira”, afirma.

Reduzir – Segundo a pesquisadora Camila Domit, do Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a limpeza das praias é muito importante, mas a mudança de comportamento é fundamental para a preservação da vida marinha. “É evidente que os resíduos sólidos que chegam ao nosso Litoral causam a morte de uma série enorme de animais, de diferentes espécies e em grande quantidade. Entretanto, o lixo responsável por essa mortalidade não é só aquele deixado na praia, mas todo aquele que é descartado indevidamente e acaba chegando ao mar, de alguma forma. Além do descarte correto, ainda precisamos buscar reduzir a quantidade de resíduos que geramos porque já chegamos em um ponto em que não é apenas suficiente reciclar ou dar o destino correto ao que já se usou. Precisamos reduzir a quantidade do que iremos usar”, diz a especialista, que é responsável pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR, com enfoque em estudos com mamíferos e tartarugas marinhas. Camila tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em conservação de ecossistemas marinhos.

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