O 3P – Porto Pontal Paraná já tem data para inauguração

Profissionalmente, ele é conhecido apenas como Patrício Júnior. Mas seu nome completo é Antônio José de Mattos Patrício Júnior. De nascimento, é carioca da gema, mas também é cidadão jordaniano, amarantino, catarinense e itapoaense, homenagens que acumulou ao longo de 34 anos de vida profissional dedicada ao setor portuário. E para completar seu perfil de cidadão do mundo, mora oficialmente em Balneário Camboriú, passa a semana em seu apartamento em Curitiba e está alugando uma casa em Pontal do Paraná.

Irmão caçula de uma família de sete filhos, Patrício Jr é casado com Sônia Regina há 33 anos, é pai de Caio Augusto (31) e Victor Hugo (29) e avô da pequena Giulia. Toda a família aguarda para abril a chegada do primeiro neto, Logan Thaddeus, que nascerá nos Estados Unidos.

Até o Ensino Médio, Patrício Jr sempre estudou em escolas públicas do Rio de Janeiro. Ingressou na Marinha em 1981. É formado em Ciências Náuticas pela Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante, tem pós-graduação em Finanças Avançadas pela Univille (SC), MBA em Gestão Portuária pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Gerenciamento de Terminais pela Lloyds Maritime Academy (Londres/Inglaterra), além de formação nos cursos de Executive Development Plan no IMD (Suíça) e Magnum Program da Maersk Academy (Dinamarca).

Passou 12 anos embarcado em navios e rebocadores de alto mar da Marinha Mercante Brasileira. Em 1995, voltou à terra firme. A partir daí, passou pelas empresas Aliança, Sealand, Maersk Sealand, CTO Pecém (hoje, APM Terminals Pecem), Aqaba Container Terminal, APM Terminals Jordania, Panama e Brasil e Porto Itapoá, sempre em cargos de liderança.

Esse é o profissional que em outubro do ano passado assumiu a presidência do Porto Pontal Paraná, com a missão de iniciar a fase de implantação do projeto e colocar o porto em operação. E já marcou a data da inauguração: 5 de maio de 2020. Patrício Jr recebeu a Tribuna do Litoral para uma entrevista especial sobre o porto e seu impacto na vida de Pontal do Paraná.

Tribuna do Litoral – Há quase 20 anos, Pontal do Paraná ouve falar do novo porto e até agora nada foi iniciado. Esse projeto será mesmo concretizado?

Patrício Jr – Com certeza, como o ar que respiramos! Essa demora é natural em qualquer grande empreendimento. Todo projeto como o 3P – Porto Pontal Paraná começa com o licenciamento prévio, que avalia todos os seus impactos sociais e ambientais. A legislação ambiental brasileira é uma das mais rigorosas do mundo e tem por objetivo assegurar o desenvolvimento econômico em harmonia com o meio ambiente. Por isso, a fase de licença prévia é geralmente demorada mesmo, pois é nessa etapa que todo grande empreendimento precisa realizar seu Estudo de Impacto Ambiental (EIA) com o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para obter seu licenciamento ambiental, que é a licença prévia. Nosso EIA RIMA foi feito pelos melhores especialistas da área, incluindo professores da Universidade Federal do Paraná no Litoral.

TL – E o que exatamente diz o EIA RIMA do porto?
Patrício Jr – Nossa licença de instalação foi emitida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovais) em maio de 2015. Todos os estudos de impactos ambientais foram elaborados conforme a legislação. O processo de Licenciamento Ambiental do porto começou em 2005. O Estudo de Impacto Ambiental – EIA foi apresentado em 2008. O Ibama analisou o EIA e as demais avaliações solicitadas à empresa, emitindo a Licença Prévia em 2010, que atesta a localização, a concepção e a viabilidade ambiental do terminal portuário, como também elenca 27 condicionantes a serem atendidas nas próximas fases do licenciamento.
Com a LP, o projeto básico de engenharia evoluiu ao nível de execução de detalhamento, seguindo as especificações apontadas no licenciamento. Este processo resultou em um plano de execução de melhorias referentes aos métodos construtivos para o projeto executivo, que inclui os resultados da avaliação dos principais impactos ambientais identificados no EIA.

Sendo assim, o projeto atende cada uma das condicionantes apontadas na LP, entre elas a elaboração do Plano Básico Ambiental (PBA) para garantir a mitigação dos eventuais impactos sociais e ambientais identificados. O PBA contempla mais de 30 programas e subprogramas ambientais, entre eles o Programa de Gestão Ambiental; Controle e Monitoramento da Qualidade do Ar, das Águas Superficiais e das Águas Subterrâneas; de Mudanças Hidrodinâmicas; Recuperação de Áreas Degradadas; de Salvamento e Aproveitamento Científico da Flora; de Mamíferos Aquáticos; de Vertebrados; de Educação Ambiental e de Educação Ambiental aos Trabalhadores; de Assistência aos Funcionários (capacitação, habitação, saúde), de Monitoramento da Atividade Pesqueira; de Resgate Arqueológico, de Componentes Indígenas; entre outros.

Em 2015, o projeto executivo, o PBA e demais documentos para atendimento às condicionantes, foram protocolados junto ao Ibama que, após análise aos pereceres técnicos, expediu a Licença de Instalação (nº 1059/2015).
Nesta área ambiental é importante ressaltar que após a obtenção da LP (Licença Prévia) e da LI (Licença de Instalação), o 3P – Porto Pontal Paraná terá que obter a LO (Licença de Operação) para dar início as operações portuárias.

TL – Se já tem a licença de instalação, por que ainda não começaram as obras de implantação?
Patrício Jr – Porque houve um questionamento jurídico em relação à participação da Funai no processo de licenciamento prévio. Em decorrência de uma decisão liminar, a LI encontra-se parcialmente suspensa. Já apresentamos nossa defesa e o Ministério Público Federal já se manifestou favorável à revogação da liminar. Aguardamos a decisão judicial final para podermos iniciar as obras imediatamente.

TL – Um dos questionamentos sobre o 3P – Porto Pontal é o fato de já termos o Porto de Paranaguá na região. Há espaço para um novo porto no litoral do Paraná?
Patrício Jr – Eu acho essa pergunta curiosa. As notícias sobre os portos brasileiros, especialmente nos períodos de escoamento das safras agrícolas e nos meses de maior volume de carga, como por exemplo, os meses que antecedem o natal, mostram que os portos estão congestionados, que há filas nos portos e transtornos rodoviários. No momento que a gente anuncia um novo porto, para ajudar a desafogar essa logística, todos perguntam se há espaço e demanda para um novo porto! O que a realidade nos responde? Sim, há espaço e necessidade de infraestrutura de logística mais adequada à crescente demanda.

Hoje, o Brasil é a sétima economia do mundo, com o potencial de voltar à quinta posição no ranking mundial. Mas, quando analisamos o setor portuário, constatamos que ainda estamos longe de reconquistar essa posição. Hoje, os maiores portos do mundo movimentam, em média, 30 milhões de TEUs – um TEU é um contêiner de 20 pés, um contêiner de 40 pés, são dois TEUs –. No ranking mundial, o Brasil, com todos os seus portos de contêineres, ocupa a 23ª colocação, com 9,6 milhões de TEUs movimentados por ano. Como país, perdemos para Rotterdam, Antuérpia e Los Angeles, entre outros. A demanda existe! O Paraná e o Brasil precisam desse novo porto, sim! O Paraná está ficando para trás. Santa Catarina está dando um show no Paraná, com cinco portos em operação, altamente competitivos! O Paraná, até hoje, tem uma só opção.

TL – Não se trata apenas de uma competição entre dois Estados, mas algo que envolve desenvolvimento, geração de empregos e crescimento econômico. Qual é o potencial de crescimento efetivo que temos em Pontal do Paraná com o porto?
Patrício Jr – Quando a gente olha o Sul do Brasil, isso inclui São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, analisamos do Porto de Santos até o Porto de Rio Grande. Nesse trecho, são pouquíssimos portos ou entrada de portos que têm as condições que o 3P – Porto Pontal Paraná vai ter. No geral, são duas coisas que limitam uma entrada num porto: o alargamento do canal e sua profundidade. Já no início da sua operação, o porto terá uma profundidade, que é a medida entre a lâmina d’água e o fundo do canal, de 16 metros, permitindo o acesso de navios com calado de 14 metros, que são os maiores navios do mundo. Nenhum outro porto do Sul tem essa profundidade! Esse já é um diferencial competitivo relevante! E o que significa um metro a mais de profundidade? Um navio grande, para emergir um centímetro, precisa carregar um peso de 100 toneladas de carga. Cada contêiner brasileiro de importação ou exportação tem, em média, 12,5 toneladas. Então, preciso transportar oito contêineres para emergir um centímetro. Ou seja, cada metro de profundidade de canal me dá a possibilidade de carregar 800 contêineres a mais. Se cada contêiner gera uma receita de mil dólares, para cada metro de profundidade a mais de canal, tenho 800 mil dólares a mais por navio. Se você multiplicar por 52 semanas ao ano, serão mais de 41 milhões de dólares ao ano de receitas e impostos em razão da aptidão portuária da região. Esse é um potencial que só Pontal do Paraná tem no sul do Brasil!

TL – Mas de onde virão tantas cargas? Quem vai usar o 3P – Porto Pontal Paraná para importar e exportar?
Patrício Jr – Eu costumo dizer que o contêiner transporta desde penico até bomba atômica. Quem tem um celular nas mãos tem que saber que esse celular chegou até você graças ao transporte por contêiner! A gente transporta desde brinquedo da China até perfume da França; desde alimentos industrializados, até frango congelado. Um navio de contêiner pode transportar tudo! Então, podemos transportar cargas do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul, incluindo os países do Mercosul.

TL – Qual a diferença entre um porto de contêineres e um porto de carga a granel, como o de Paranaguá?
Patrício Jr – São operações totalmente distintas, com infraestruturas distintas e operações distintas. Paranaguá é líder nacional em carga a granel. O processo de embarque e desembarque de cargas são específicos. Naturalmente, há sempre desperdício de grãos, desde a fase de transporte rodoviário. Esse desperdício produz resíduos orgânicos, sujeira e mal cheiro além da proliferação de pombos e demais vetores na região portuária. Isso não existe num porto de contêineres, pois não há derrame de material orgânico no transporte e no processo de embarque e desembarque da carga. De forma simples, numa comparação entre granel e contêiner, costumamos dizer que o contêiner é uma carga limpa.

TL – E quando as obras começarem, começarão as contratações prometidas?
Patrício Jr – Serão várias as etapas de contratação de mão de obra. Na fase de instalação, a construtora que será contratada para realizar as obras será a responsável pelas contratações da equipe que atuará na construção do porto. Nessa etapa, devemos gerar cerca de 1,5 mil empregos, basicamente da construção civil.

A partir da licença de operação (LO), vamos contratar diretamente os profissionais que atuarão na operação do terminal. Serão cerca de 1,5 mil empregos diretos na operação plena. Começaremos com aproximadamente 500 colaboradores e atingiremos o máximo de contratação na terceira fase de expansão do porto. Quem são esses profissionais? A maior parte da equipe será formada por auxiliares de operação. Esse profissional atua no gate, ou seja, o acesso ao porto, serviços de pátio-armazém e nos navios, auxiliando na movimentação das cargas. Essa é a porta de entrada para seguir a carreira operacional. Além do auxiliar, teremos assistentes e operadores de equipamentos de pequeno e grande porte na área de operações. Para ingressar nessa carreira é preciso que o candidato tenha ensino méio completo e carteira de habilitação categoria D. Quem dominar outro idioma, como por exemplo o inglês, destaca-se também na área operacional, pois parte do trabalho é realizado nos navios, que virão de todas as partes do mundo.

Na parte administrativa, vamos contratar todos os profissionais necessários para a gestão do negócio, como técnicos em logística, comércio exterior e finanças, secretárias e recepcionistas, pessoal administrativo, da área de informática, qualidade e de gestão de pessoas.

A lei trabalhista não nos permite dar preferência geográfica para a contratação de mão-de-obra de Pontal do Paraná, mas com certeza daremos treinamentos no local para permitir uma condição de igualdade para aqueles que nunca trabalharam na área portuária. É importante lembrar que para cada emprego direto gerado, o porto gera outros cinco empregos indiretos.

TL – Como é essa relação entre empregos diretos e indiretos?
Patrício Jr – Quando começar a operar, o porto vai precisar contratar diversos fornecedores em diferentes áreas. O porto será um consumidor de produtos e serviços. Quem vai fornecer isso para o porto? Quem tiver qualidade e preço competitivo, de preferência que esteja perto da gente. Então, os empreendedores de Pontal do Paraná terão a oportunidade de se organizarem para serem esses fornecedores, especialmente nas áreas de educação, saúde, alimentação e transportes. Além disso, os colaboradores do porto injetarão recursos na economia local com seus salários, consumindo no comércio local. Tudo isso vai movimentar a economia, promover crescimento dos negócios e gerar novos empregos. É o movimento natural do desenvolvimento econômico. Isso acontecerá nos supermercados, bancos, escolas, salões de beleza, bares e restaurantes, entre outros.

TL – Conta para nós detalhes de como será o 3P – Porto Pontal Paraná?
Patrício Jr – Queremos que o 3P – Porto Pontal Paraná seja o melhor porto de contêineres das Américas. O porto será um terminal de uso privado, com uma área total de 627 mil m², que realizará atividades de transbordo, importação e exportação de cargas em contêineres. Com mais de mil metros de cais e três berços de atracação simultânea de navios, terá uma das maiores áreas para armazenamento de contêineres do Brasil. O porto deverá ampliar em 55% a capacidade portuária do Paraná, que se tornará competitivo na atividade portuária brasileira.

Nossa tecnologia será a mais avançada que existe no mundo. Isso resultará numa operação muito mais segura, rápida e com menores custos para o cliente. Com o uso de softwares avançadíssimos, conseguiremos rastrear qualquer carga em tempo real, reduzindo ao máximo o tempo de carga e descarga dos navios.

Além disso, por estar localizado na entrada do canal da Galheta, na Baía de Paranaguá, trecho da região costeira mais profunda no litoral Sul brasileiro, com 16 metros de profundidade, o 3P – Porto Pontal Paraná terá capacidade para receber os maiores navios do mundo.

TL – O que o Paraná ganha com isso?
Patrício Jr – Competitividade e impostos. O 3P – Porto Pontal Paraná vai funcionar como um indutor mercantil que aproximará o Paraná das grandes rotas mundiais do comércio. O Paraná perdeu muito espaço para Santa Catarina nessa área e precisa se recuperar com urgência. Em operação, o terminal será estratégico para toda a logística brasileira, especialmente das regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil. É um projeto green field na área portuária de Pontal do Paraná, muito estratégico para impulsionar o comércio exterior no país, o comércio marítimo representa hoje, 95% do transporte de todas as exportações e importações brasileiras. Junto com o Porto de Paranaguá, o 3P – Porto Pontal Paraná tornará o Estado do Paraná a melhor opção logística no Brasil.

TL – Voltando à questão local, o 3P – Porto Pontal Paraná doou recentemente duas viaturas policiais para o Conselho Municipal de Segurança. Por quê?
Patrício Jr – Esse foi um pedido da comunidade que entendemos relevante e importante para todo o município. Como membro da comunidade do Pontal do Paraná, o porto quer participar também do seu crescimento social, não apenas por meio dos empregos gerados e dos impostos que serão recolhidos aos cofres públicos para investimentos em educação, saúde, segurança, infraestrutura entre outras áreas. Sempre que possível e oportuno, também queremos apoiar iniciativas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida de todos em Pontal. Não somos aproveitadores de ocasião, mas sim um parceiro que veio para ficar por muitos e muitos anos.

TL – Para finalizar, esclareça para nós o valor do investimento na instalação do Porto e se esse investimento será feito com recursos públicos.
Patrício Jr – O investimento inicial do projeto é de R$ 1,5 bilhão; em torno de U$$ 430 milhões. Trata-se de um investimento 100% privado, liderado pelo Grupo JCR Participações, sem qualquer recurso público. Por não ser um investimento excessivamente elevado para o mercado internacional, o projeto já atraiu a atenção de grandes investidores mundiais e estamos num momento estratégico na busca de parcerias.

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