O caminho para a inserção no mercado de trabalho nunca é fácil mesmo em época de economia próspera, porém o cenário torna-se extremamente mais árduo em período de recessão. Possivelmente a maior (e indesejada) herança do governo Dilma Rousseff foi o aumento incessante do desemprego no Brasil, que atinge diretamente os jovens que buscam conquistar seu espaço profissional.
A lógica para explicar isso é muito simples: com a intensificação do desemprego, aumentam os números de profissionais experientes e qualificados no mercado, muitos deles dispostos a aceitar salários menores do que costumavam receber. Na hora de concorrer a um trabalho, a desvantagem do jovem fica muito grande, especialmente devido ao aumento de exigências das empresas para as vagas.
Essa realidade é comprovada em dados. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea), a taxa de desemprego do país alcançou 11,8%. Em relação aos jovens entre 14 a 24 anos o desemprego atingiu 27,7% no terceiro trimestre de 2016 (um aumento de 6,98% em relação ao mesmo período de 2015). São aproximadamente cinco milhões de jovens sem trabalho, o que amplia a dependência deles da família, que tem sua renda diminuída e custos aumentados.
Apesar da maior atenção que o poder público passou a ter em relação ao trabalho juvenil desde a década de 90, a crise econômica acentuou a necessidade de reavaliação do foco das políticas de emprego nacional. No geral os programas são destinados a segmentos com baixa escolaridade e renda, porém as dificuldades para entrar e permanecer no mercado de trabalho atinge todas as classes da juventude.
Atualmente grande parte do esforço federal, estadual e municipal é destinado para políticas de qualificação profissional focadas em competências básicas e gestão. Em menor número, encontramos cursos técnicos que vão de encontro com as demandas do mercado local. Já as parcerias com a iniciativa privada costumam existir apenas por intermédio de subsídios públicos para os empregadores, com baixo investimento para a formação continuada do jovem e sem um plano de carreira que o estimule a almejar coisas maiores, o que diminuiria outro problema constante deste segmento que é a alta rotatividade nos empregos.
A melhoria da empregabilidade dos jovens passa, obrigatoriamente, pela recuperação da economia nacional, que automaticamente resultaria no aumento de vagas no mercado de trabalho. Porém precisamos que as políticas de qualificação profissional atuem de forma integrada com as de inserção ao mercado de trabalho, uma vez que de nada adianta ter formação se não existem oportunidades. Alcançar isso exige cada vez mais diálogo e comprometimento entre as esferas públicas e iniciativa privada para encontrar caminhos que permitam efetivação do acesso e direito ao trabalho para o jovem, tanto para o primeiro emprego quanto na sua permanência no mercado e desenvolvimento profissional.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)