O ano de 2016 foi marcado por crise econômica, política e de representação que, sem dúvidas, entrarão para a história como um dos períodos mais conturbados do nosso país. Tivemos pela segunda vez um impeachment de presidente, renúncia do presidente da Câmara, denúncias de corrupção envolvendo o alto escalão da política nacional e diversas manifestações populares expressando a desaprovação com a gestão pública.
Na economia o cenário manteve-se muito parecido com o de 2015, com desemprego, inflação, alta nas taxas de juros e incertezas para o setor produtivo. Vivemos uma triste realidade causada pela grave crise que o governo petista levou o Brasil por meio da contenção artificial de tarifas públicas, insistente ativismo fiscal com interesse eleitoreiro, desonerações tributárias irresponsáveis, incentivo ao endividamento e, logicamente, corrupção sistêmica.
Em relação à administração pública, a situação é tão complicada que semana passada o governo de Minas Gerais decretou calamidade financeira, sendo o terceiro estado (ao lado de Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) a tomar essa medida. Para piorar, mais dez estados encontram dificuldades em honrar a folha de pagamento, com atraso de salários, escassez de recursos, diminuição de investimentos e indefinição em relação ao 13º.
Com o país em um cenário tão caótico, quais são as perspectivas para o futuro? Não há dúvidas que o maior desafio será realizar uma grande revisão na gestão de despesas públicas e trabalhar para recuperar o crescimento econômico. Apesar das enormes dificuldades, as previsões já apresentam tímidas melhorias.
De acordo com estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a economia nacional deverá apresentar sinais de recuperação apenas no segundo semestre de 2017, com um crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa um avanço considerável em relação à contração de 3,3% previsto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2016. A análise da CNI também mostra uma expansão de 1,3% da indústria e aumento de 2,3% nos investimentos.
Apesar disso, as previsões também indicam que a dívida pública subirá de 72,1% do PIB para 76,6% em 2017. Caberá ao Governo Federal, além de grande capacidade política, aproximar a sociedade do debate e da construção de reformas e mecanismos necessários para reverter o descontrole fiscal, fator essencial para a melhoria do ambiente de negócios, geração de emprego e recuperação da credibilidade e competitividade do país, que irão abrir caminho para a retomada do crescimento nacional de forma sustentável.
Não existe saída fácil ou rápida para a crise econômica, uma lição que foi esquecida e muitas vezes substituída por soluções em curto prazo de caráter populista que podem até maquiar as dificuldades momentaneamente, mas que costumam agravar os problemas e prejudicar as próximas gerações. Esse tipo de comportamento levou o país à pior crise de nossa história e para mudar essa realidade é necessário exigir gestões responsáveis e equilibradas, que trabalhem para alcançar a solvência das contas públicas e tenham como principal objetivo melhorar a estrutura e a qualidade de vida da população, longe dos projetos de poder que dominaram o cenário nacional na última década.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)