Pretexto e consequências – artigo de Marcello Richa

O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo e o Paraná é responsável por um terço de toda a produção nacional. Ou seja, muitas famílias vivem do trabalho da avicultura no estado e serão atingidas pelo embargo, que poderá gerar um prejuízo de até um bilhão por ano para o país, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

O embargo estabelecido pela União Europeia se baseia em uma suposta deficiência no sistema de controle da bactéria Salmonella. Atualmente a maior parte da exportação da carne de frango brasileiro é crua com adição de 1,2% de sal, um formato de produto que paga um imposto menor do que se fosse vendida “in natura” (sem adição de sal). Enquanto o primeiro passa por inspeção de 2,6 mil tipos de Salmonella, o segundo tem inspeção para apenas dois tipos diferentes da bactéria.

Não é novidade que os interesses comerciais se sobreponham aos relacionamentos entre países e blocos, porém essa decisão da União Europeia precisa ser vista com muita atenção. O impacto do embargo não será pequeno e poderá afetar até 35% das exportações da carne de frango brasileira, além de causar o fechamento de 30 mil vagas diretas e indiretas de trabalho.

Infelizmente sofremos com nossa própria ganância e abrimos brechas para que existam justificativas para esse tipo de ação. A 3ª fase da operação Carne Fraca revelou um esquema entre frigoríficos e laboratórios privados para concessão de laudos falsos em relação à presença da Salmonella, o que afetou diretamente a credibilidade de nossos produtos, oferecendo um pretexto perfeito para o embargo e diminuição da participação brasileira no mercado.

Algumas medidas já estão sendo tomadas para combater essa situação, como a ação do Ministério da Agricultura na Organização Mundial do Comércio (OMC), que afirma que a decisão da União Europeia é protecionista e utiliza questões de cuidados sanitários com interesse de criar uma barreira comercial, já que o Brasil cumpre o estabelecido pelo Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias.

Também estão sendo realizadas reuniões e debates com as empresas embargadas para promover as adequações necessárias em relação às novas exigências sanitárias. Uma vez que isso esteja finalizado, o Brasil deverá solicitar uma missão junto a União Europeia para comprovar que os produtos estão aptos para exportação.

É necessário união entre todos os setores para reverter essa situação com urgência, buscando maior e constante fiscalização, legislações atualizadas e específicas no segmento, segurança jurídica e implantação de programas que fortaleçam o essencial trabalho do agronegócio. Assim poderemos recuperar a credibilidade brasileira no mercado, bem como promover ações que evitem margem para que situações semelhantes possam acontecer novamente.

Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)

Compartilhe!

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
API key not valid, or not yet activated. If you recently signed up for an account or created this key, please allow up to 30 minutes for key to activate.