Um dos maiores fenômenos causados pela disseminação da internet e, especialmente, das redes sociais, foi a criação de uma rede de desinformação extremamente ativa e que tem causado estragos severos na sociedade. A velocidade e quantidade de informações transformaram as redes em um verdadeiro campo de guerra, onde muitas vezes a veracidade é deixada de lado em prol de interesses de determinados grupos ou pessoas.
Pesquisa promovida pelo Instituto Reuters em 2016 indicou que 72% dos brasileiros utilizam as redes sociais como principal fonte de notícia. É um índice alto e atraente para diferentes grupos buscarem disseminar seus interesses por meio de materiais que misturam fatos com mentiras, inventam declarações e se aproveitam de acontecimentos que muitas vezes nada tem haver com outro para difamar, caluniar ou denegrir uma pessoa, instituição ou linha de pensamento.
No universo de interesses políticos, a utilização da rede de desinformação se tornou uma prática comum e não é difícil entender o motivo. No final de 2016, por exemplo, o Instituto Ipsos promoveu uma pesquisa sobre a discussão da Previdência, um tema polêmico e bastante em pauta, e obteve como resposta que 70% dos entrevistados estavam preocupados com o rumo que a reforma poderia tomar, porém 42% diziam não acompanhar notícias a respeito e 29% conheciam superficialmente sobre o assunto. Um terreno fértil para a desinformação.
Nesse cenário, em que deveríamos buscar o diálogo e a troca de ideias para promover a melhor reforma possível, o consumidor de notícias acaba sendo bombardeado por informações desencontradas, inverídicas ou tendenciosas enquanto verificam suas redes sociais. Na disputa política e ideológica, é fácil perceber que as redes são usadas para impor posição, independente de ser verídica ou não.
O profissionalismo da rede de desinformação chegou a um nível em que os “propagadores de notícias” já buscam registrar os sites fora do país para fugir da justiça e usam textos de agências de notícias fictícias, sem citar fontes, identificar autores ou apresentar expediente e contato. Com títulos e textos sensacionalistas, promovidos por um enorme batalhão de perfis falsos para alcançar o maior número de leitores, acabam sendo compartilhados e disseminados por pessoas que desejam participar do debate e que por vezes acabam sentindo-se ética e moralmente afetados pela notícia – que devido à grande quantidade de vezes que a recebem acabam acreditando que seja verdadeira.
Os danos causados pela desinformação vão longe e podem enfraquecer governos, impedir projetos importantes, denegrir imagem e estimular o ódio e divisão da população. Combater esse fenômeno digital exige mais critérios em nossas análises daquilo que iremos compartilhar, verificando a procedência da informação e estimulando que outros façam o mesmo. É preciso que tenhamos a percepção de que desinformação não é liberdade de expressão, ela é apenas mentira e distorção dos fatos.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)