Um ato que salva vidas – artigo de Marcello Richa

Durante o início do inverno acontece em todo o país a campanha “Junho Vermelho”, que busca conscientizar a população sobre a importância da doação de sangue. A iniciativa ganha mais relevância porque neste período os bancos de sangue apresentam uma queda de 30% nas doações, muitas vezes ficando abaixo do mínimo necessário para atender a demanda.

 De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) um simples ato como doar sangue pode salvar até três vidas. Apesar de todos nós estarmos sujeitos a necessitar da doação de sangue, ainda encontramos no Brasil poucos que se dispõe a esse ato de solidariedade e cuidado com o próximo.

 Dados do Ministério da Saúde apontam que 1,8% da população brasileira doam sangue com regularidade, abaixo do indicado, por exemplo, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que mostra que o ideal seria pelo menos 2% da população doar sangue para suprir a necessidade de um país, e ainda longe dos 3% sugeridos pela OMS.

 Em 2015 apenas 61% das doações de sangue no Brasil foram voluntárias (feitas sem saber quem irá receber o sangue), enquanto 38% foram de reposição (realizadas para um amigo ou parente que precisa de sangue). Ou seja, muitas vezes só conseguimos mobilizar a doação de sangue quando a situação nos atinge a um nível pessoal.

 É perceptível que ainda não temos no país uma cultura que trabalhe a questão da doação de sangue como um ato de responsabilidade social. Promover essa mudança exige que desde jovens, tanto em casa quanto nos colégios, tenhamos informações a respeito de como funciona, quem pode doar, a importância da regularidade desse ato e, especialmente, que ela beneficia a todas as pessoas.

 Disseminar essas informações também pode e deve ser feito ao longo do ano em diferentes segmentos, com iniciativas de órgãos públicos, empresas, comunidade e terceiro setor. Cito como exemplo o projeto “Doe Sangue pelo Esporte”, promovido pela Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude de Curitiba (Smelj), que envolve atletas beneficiários pela Lei de Incentivo ao Esporte como embaixadores e conta também com o suporte de clubes, federações, entidades e instituições da área.

 Somado a isso, precisamos facilitar o acesso a doação com equipamentos móveis ou unidades descentralizadas, melhorar as condições de armazenamento para evitar descartes desnecessários e promover melhorias de comunicação entre hemocentros e hospitais. São medidas que irão permitir maior capilaridade, qualidade e eficiência nas ações envolvendo doação e transfusão de sangue.

 Por fim, também temos que eliminar absurdos em nossa lei que, por exemplo, restringe a doação de homens que mantiveram relações sexuais com outros parceiros do mesmo sexo pelo período de um ano. Logicamente que deve existir uma preocupação em relação ao comportamento de risco do doador, mas isso indefere da escolha sexual de uma pessoa. Em uma época que os resultados de exames para verificar se um sangue é saudável ou não levam cerca de 10 a 15 dias apenas, acabamos desperdiçando potenciais doadores devido a uma legislação atrasada e inegavelmente preconceituosa.

 O “Junho Vermelho” trouxe novamente à pauta a doação de sangue e precisamos potencializar essa ação para incentivar novos doadores, buscar melhorias estruturais e garantir que as pessoas encontrem o suporte necessário para salvar suas vidas.

 

Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)

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